Por Sempa Sebastião – jornalista e analista sociopolítico

Nos últimos tempos, o povo angolano tem sido submetido a uma sequência angustiante de medidas governamentais que agravam, sem piedade, o custo de vida. Depois da aprovação do aumento das propinas nas instituições públicas de ensino, agora é a vez do combustível. O gasóleo, essencial para o transporte coletivo e para a mobilidade popular, subiu para 400 kwanzas o litro.

O mais alarmante é que, mesmo com esse aumento, o Estado não mexeu no preço fixo do táxi, transporte usado diariamente por milhões de angolanos. Como pode um governo que se diz do povo ignorar a realidade do povo? Como é possível legislar no ar condicionado, sem pisar as ruas e sem ouvir quem vive da corrida diária, da luta para chegar ao trabalho ou da venda ambulante?

O táxi: veículo do povo, símbolo do abandono

O táxi em Angola não é um luxo é um bem essencial. Ele transporta trabalhadores, estudantes, vendedores, mães, pais e até crianças que vão à escola. É, muitas vezes, o único elo entre casa e sobrevivência.

Com a subida do gasóleo, um motorista que gastava 5.000 Kz por dia para abastecer, agora gasta 10.000 Kz. E se não aumentar o valor da corrida, trabalha só para o combustível. Se aumentar por conta própria, infringe a tabela imposta e corre o risco de ser multado ou penalizado.

E o passageiro? Também está encurralado. Ou caminha a pé, ou aceita o novo preço, mesmo que isso signifique sacrificar o pão, o almoço ou o dinheiro da escola do filho.

Propinas subiram, o combustível também. E o salário?

Este mês já começou mal: as propinas foram autorizadas a subir. E agora, num mesmo fôlego, o combustível. Mas os salários dos funcionários públicos continuam congelados, o setor informal continua desamparado e o povo continua a sobreviver com as migalhas da economia.

Há uma ruptura clara entre o que o Estado decide e o que o cidadão sente. Não há escuta, não há empatia, não há preparação social para medidas tão pesadas.
As universidades estão cheias de estudantes que pensam em desistir. As paragens estão cheias de gente sem táxi. Os mercados estão cheios de rostos cansados. E o governo? Cheio de silêncio.

E afinal… quem é o patrão?

Com tudo isso, quem paga a conta é a população.
Quem está sozinho é o povo.
Quem está a sofrer é o cidadão humilde.

E agora, como se fosse ironia do destino, ouvimos um novo discurso:
“O patrão é o povo.”

Mas que patrão é esse?
Um patrão que continua a sofrer?
Um patrão que se ajoelha para comer?
Um patrão que vê o preço da escola subir, o combustível disparar e o transporte faltar?
Um patrão sem voz, sem salário digno, sem respeito institucional?

Essa frase “o patrão é o povo” chega tarde e vazia. É apenas um slogan político, sem raiz na realidade. O povo nunca foi tratado como patrão.
Tem sido tratado como carga descartável, como estatística manipulável, como ruído incômodo.

A desconexão é total

Não se governa com frases de efeito. Governa-se com visão, com sensibilidade e com responsabilidade.
Subir o combustível sem pensar no transporte é cruel.
Aumentar propinas sem revisar salários é perverso.
Fixar o preço do táxi sem considerar o custo do gasóleo é negligente.

E mesmo diante da dor social evidente, o Estado não quer saber.
Não há medidas compensatórias.
Não há diálogo com as associações de taxistas.
Não há subsídios.
Há apenas silêncio.

Conclusão: Angola precisa parar e escutar

Não é possível continuar a governar como se tudo estivesse bem. O povo está exausto. A juventude está desmotivada. A classe média está em colapso. O informal está a ser empurrado para a ilegalidade. E o táxi, esse símbolo da mobilidade popular, está a parar.

O povo está a pagar uma conta que não contraiu. Isso tem nome: injustiça social.

Enquanto os governantes discursam, o povo come menos, anda menos, estuda menos e sonha cada vez menos.

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