Por Sempa Sebastião Jornalista Internacional, Voja 24.
Anchorage, EUA – 15 de agosto de 2025 No silêncio austero de uma base militar no Alasca, dois homens, herdeiros de impérios distintos, sentam-se frente a frente com um peso que transcende o momento. Donald Trump e Vladimir Putin abriram, nesta sexta-feira, na Joint Base Elmendorf-Richardson, um diálogo carregado de história, desconfianças e expectativas. O pretexto oficial é simples: alcançar um cessar-fogo na Ucrânia. Contudo, o que se desenrola é muito mais vasto trata-se de um capítulo que poderá redefinir o equilíbrio geopolítico do século XXI.
A mesa e o mapa
Do lado norte-americano, Trump chega imbuído da promessa de “resolver hoje” um conflito que há mais de três anos devasta cidades, desloca milhões e testa os limites da diplomacia. Para ele, um acordo imediato é não apenas uma vitória política interna, mas também um trunfo pessoal na sua narrativa de líder que impõe soluções rápidas e diretas.
Putin, por sua vez, carrega na pasta de negociações o objetivo de cristalizar no plano político os avanços obtidos no terreno militar, obtendo ainda que de forma implícita o reconhecimento internacional das regiões ocupadas. É uma estratégia que, embora previsível, coloca em xeque princípios fundamentais do direito internacional.
No centro da sala, porém, há uma ausência que se impõe: a da Ucrânia. O presidente Volodymyr Zelensky, excluído destas conversações, já advertiu que qualquer entendimento firmado sem Kiev carece de legitimidade e não será reconhecido. Esta ausência não é mero detalhe, mas um fator que amplifica as tensões e levanta interrogações sobre a natureza e a durabilidade de qualquer eventual acordo.
O simbolismo da cúpula
Como em todos os encontros de alto nível entre Washington e Moscovo, gestos e imagens carregam significados profundos. Sergey Lavrov, ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, surgiu vestindo um moletom encarnado com a inscrição “CCCP”, evocando a memória da União Soviética e sinalizando, de forma calculada, que Moscovo não esquece o seu passado imperial.
Trump, fiel à sua retórica, falou aos jornalistas antes de as portas se fecharem, reiterando que não negociará em nome da Ucrânia, mas insistindo no desejo de “ver resultados hoje”. A declaração, proferida com a habitual autoconfiança, serve tanto para projetar firmeza aos olhos do eleitorado interno quanto para exercer pressão psicológica sobre o interlocutor russo.
O impacto na segurança global
Este encontro repercute muito além das fronteiras da Ucrânia.
Na Europa, teme-se que um entendimento tácito entre Washington e Moscovo possa enfraquecer o princípio da integridade territorial, pilar da segurança euro-atlântica.
Em Pequim, um eventual cessar-fogo mediado por estas duas potências poderia libertar a atenção e os recursos diplomáticos dos Estados Unidos para o Indo-Pacífico, alterando a equação estratégica na região.
Em África, observa-se com particular interesse a coerência (ou a falta dela) da resposta americana face a ocupações territoriais, numa clara analogia com crises como a do Leste da RDC.
Na ONU, o encontro é interpretado como mais um teste à capacidade e relevância do sistema multilateral para gerir conflitos de alta intensidade.
Entre a paz e a geopolítica
Segundo fontes próximas das delegações, a proposta norte-americana passaria por um cessar-fogo imediato, seguido de negociações diretas entre Moscovo e Kiev. Todavia, a Rússia mantém como linha vermelha o reconhecimento das regiões anexadas, condição que a Ucrânia recusa de forma categórica. A aceitação desta cláusula por parte de Washington abriria inevitavelmente uma nova frente de tensão com os aliados europeus.
O olhar histórico
O encontro de Anchorage remete para momentos emblemáticos da diplomacia global: a cimeira de Reykjavik, em 1986, quando Reagan e Gorbatchov quase reescreveram a lógica nuclear; ou Helsínquia, em 2018, onde Trump e Putin protagonizaram uma aproximação controversa. A diferença crucial é que, desta vez, há um conflito ativo e fronteiras disputadas em tempo real o que eleva exponencialmente o risco e a responsabilidade.
Conclusão
Anchorage é hoje o epicentro da política internacional. As horas que se seguem poderão inscrever-se na história como um passo firme rumo à paz ou como um gesto que solidificou divisões. Trump e Putin não estão apenas a negociar territórios: estão a testar os limites do poder, da diplomacia e da ordem mundial. Cada gesto, cada pausa e cada palavra desta cúpula será escrutinada nos anos vindouros não apenas como uma reunião entre dois líderes, mas como um momento em que o destino de nações e o equilíbrio global estiveram suspensos sobre a mesma mesa.
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