A crise humanitária em Cabo Delgado, Moçambique, está a agravar-se devido à falta de fundos e ao aumento de ataques terroristas. Milhares de pessoas deslocadas enfrentam dificuldades para aceder a alimentos, abrigo e assistência básica, enquanto as agências humanitárias lutam para preencher a lacuna financeira.
A escalada de violência tem provocado novos fluxos de deslocados, colocando uma enorme pressão sobre os recursos já escassos. Tadeu, um deslocado reassentado na aldeia de Megaruma, no sul da província, descreve a dura realidade. “Estamos a pedir ao Governo para apoiar as famílias em termos de comida, kits de higiene, cobertores. Pedimos também apoio com lonas, para cobrirmos os nossos abrigos”, relata.
Apesar dos esforços do Governo moçambicano, a presidente do Instituto Nacional de Gestão de Riscos de Desastres (INGD), Luísa Meque, reconheceu a diminuição do apoio internacional. Durante a entrega de uma doação do Zimbabué, Meque apelou à solidariedade interna, pedindo aos moçambicanos que apoiem os seus compatriotas.
De acordo com a Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), cerca de 56 mil pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas desde o final de julho. O conflito já afetou, direta ou indiretamente, aproximadamente 208 mil pessoas, com 80% das vítimas a serem mulheres e crianças.
Isadora Zoni, oficial de relatórios do ACNUR em Pemba, sublinha a urgência do problema financeiro. “Só há financiamento para 41% das nossas atividades, o que implica uma lacuna entre aquilo que conseguimos fazer e aquilo que são as necessidades no terreno.” Esta falta de recursos acontece num momento em que as necessidades estão a aumentar.
Para contornar as limitações orçamentais, as agências da ONU, como o ACNUR, a UNICEF e o Programa Mundial de Alimentação (PMA), estão a reforçar as parcerias no terreno. Esta coordenação permitiu, recentemente, prestar assistência alimentar, abrigo e proteção a cerca de 31 mil pessoas.
No entanto, a falta de fundos não é o único obstáculo. A multiplicação de emergências globais e as dificuldades de acesso às zonas de conflito dificultam ainda mais a resposta. “O deslocamento está a acontecer de forma rápida e, muitas vezes, é difícil chegar a essas áreas instáveis para prestar assistência à população”, alertou Isadora Zoni.
A situação em Cabo Delgado mostra a necessidade urgente de uma resposta global coordenada e de maior apoio financeiro para evitar que a crise humanitária se aprofunde. A solidariedade interna e externa é crucial para ajudar as populações mais vulneráveis a reconstruírem as suas vidas.