O Primeiro-ministro do Sudão, Kamil Idris, propôs uma ampla iniciativa de paz para pôr fim a uma guerra de quase mil dias com uma força paramilitar rival, mas os Estados Unidos instaram ambos os lados a aceitarem o apelo do governo Trump por uma trégua humanitária imediata.

Kamil Idris, chefe do governo civil de transição do Sudão, disse, segunda-feira, ao Conselho de Segurança que seu plano prevê um cessar-fogo monitorado pelas Nações Unidas, União Africana e Liga Árabe, além da retirada das forças paramilitares de todas as áreas que ocupam, sua transferência para campos supervisionados e seu desarmamento.

O Sudão mergulhou no caos em Abril de 2023, quando uma luta pelo poder entre os militares e as Forças de Apoio Rápido paramilitares explodiu em confrontos abertos, com assassinatos em massa, estupros e violência motivada por questões étnicas.

Isso configura crimes de guerra e crimes contra a humanidade, segundo a ONU e grupos internacionais de direitos humanos.

Parecia altamente improvável que as Forças de Apoio Rápido (RSF) apoiassem a proposta do primeiro-ministro, que essencialmente daria uma vitória às forças governamentais e lhes retiraria o poder militar.

Numa referência indirecta à trégua apoiada pelos EUA e pelos principais mediadores, Arábia Saudita, Egipto e Emirados Árabes Unidos, conhecidos como Quad, Idris enfatizou ao Conselho de Segurança da ONU que a proposta do governo é “feita em casa, não imposta a nós”.

No início de Novembro, as Forças de Apoio Rápido (RSF) concordaram com uma trégua humanitária. Naquela ocasião, um oficial militar sudanês disse à Associated Press que o exército acolheu bem a proposta do Quad, mas só concordaria com uma trégua quando as RSF se retirassem completamente das áreas civis e entregassem suas armas — condições essenciais do plano apresentado por Idris na segunda-feira.

Idris afirmou que, a menos que as forças paramilitares fossem confinadas em acampamentos, uma trégua “não teria chance de sucesso”. Desafiou os 15 membros do Conselho de Segurança a apoiarem sua proposta.
“Esta iniciativa pode marcar o momento em que o Sudão se afasta do abismo e a comunidade internacional — vocês! Vocês! — se posiciona do lado certo da história”, disse o primeiro-ministro sudanês.

Afirmou que o conselho deve “ser lembrado não como testemunha do colapso, mas como parceiro na recuperação”.

O vice-embaixador dos EUA, Jeffrey Bartos, que discursou perante o conselho antes de Idris, afirmou que o governo Trump ofereceu uma trégua humanitária como solução e que “Instamos ambos os beligerantes a aceitarem este plano imediatamente, sem pré-condições”.

Bartos afirmou que o governo Trump condena veementemente a violência horrível em Darfur e na região de Kordofan, bem como as atrocidades cometidas tanto pelas Forças Armadas Sudanesas quanto pelas Forças de Apoio Rápido, que devem ser responsabilizadas.

O embaixador dos Emirados Árabes Unidos, Mohamed Abushahab, membro do Quad, afirmou que existe uma oportunidade imediata para implementar a trégua humanitária e levar ajuda aos civis sudaneses que se encontram em extrema necessidade.

“As lições da história e as realidades actuais deixam claro que os esforços unilaterais de qualquer uma das partes em conflito não são sustentáveis e apenas prolongarão a guerra”, alertou.

Abushahab afirmou que uma trégua humanitária deve ser seguida por um cessar-fogo permanente “e um caminho rumo a um governo civil independente das partes em conflito”.

O Subsecretário-Geral da ONU para Assuntos Políticos, Khaled Khiari, reflectiu sobre as crescentes preocupações do Conselho em relação à guerra no Sudão, que tem sido alimentada pelo fornecimento contínuo de armas cada vez mais sofisticadas.

Criticou países não identificados que se recusam a parar de fornecer armas, bem como as forças governamentais e paramilitares por permanecerem inflexíveis quanto à possibilidade de chegar a um acordo ou reduzir a tensão.

“Embora tenham conseguido cessar as hostilidades para preservar as receitas do petróleo, até agora não fizeram o mesmo para proteger a sua população”, disse Khiari. “Os apoiantes de ambos os lados devem usar a sua influência para ajudar a pôr fim ao massacre, e não para causar ainda mais devastação.”

A guerra devastadora no Sudão matou mais de 40.000 pessoas, segundo dados da ONU, mas organizações humanitárias afirmam que o número real pode ser muito maior. O conflito criou a maior crise humanitária do mundo, com mais de 14 milhões de pessoas deslocadas, surtos de doenças e fome se alastrando em algumas partes do país.

Deixe uma resposta