Em meio à retomada dos trabalhos legislativos após as férias de verão, o Parlamento português foi palco de um confronto verbal acirrado, marcado por acusações e tensões entre o Chega, liderado por André Ventura, e os partidos PS e PSD. O embate, que dominou a sessão de quarta-feira, começou com a proposta do Chega para a criação de uma comissão de inquérito parlamentar sobre os incêndios florestais.
André Ventura criticou a recusa do PS e do PSD em apoiar sua proposta, optando por uma comissão técnica independente. Em sua argumentação, o líder do Chega acusou ambos os partidos de estarem unidos para impedir a investigação dos responsáveis pelos incêndios e dos interesses econômicos por trás deles. Ele usou a tribuna para lançar acusações de 50 anos de corrupção e de “colinho” (conivência) do PSD com o PS.
As declarações de Ventura provocaram respostas duras dos líderes parlamentares do PS e do PSD. Eurico Brilhante Dias, do PS, sugeriu que a “ofensiva” de Ventura era uma estratégia para desviar a atenção de um possível financiamento do Chega pela empresa Helibravo, investigada em relação aos incêndios. Ele questionou se o líder do Chega tinha “o rabo preso” na questão.
Ventura negou o financiamento e revidou, apontando para figuras do PS envolvidas em escândalos judiciais, como Paulo Pedroso, Ferro Rodrigues, Manuel Pinho e José Sócrates. Ele chegou a acusar o PS de ter “os bolsos cheios” com dinheiro de empresas, citando financiamento de Macau e Angola, e mencionou Mário Soares, fundador do partido, de forma polêmica.
A menção a Mário Soares foi repreendida pelo presidente da Assembleia da República, que defendeu o legado do antigo chefe de Estado na consolidação da democracia e do pluralismo em Portugal.
O embate com o PSD também escalou. André Ventura acusou os sociais-democratas de temerem o inquérito sobre os incêndios. Hugo Soares, líder parlamentar do PSD, defendeu seu partido e acusou Ventura de transformar o plenário em um “regabofe” para ganhar likes nas redes sociais. Soares também mencionou a condenação judicial do próprio Ventura, em um “jogo” de acusações que se aprofundou.
A tensão atingiu o ápice quando Ventura apontou para um deputado do PSD e o acusou de ter atropelado uma criança. Hugo Soares defendeu o colega, classificando o incidente como um “infortúnio” que não resultou em processo judicial. Ele encerrou a discussão reafirmando que o PSD não permitirá que a honra de seus membros seja ofendida, lembrando o histórico judicial de André Ventura.
Diante do clima de hostilidade, o presidente da Assembleia da República interveio, lembrando a todos os deputados a importância de manter a urbanidade e a lealdade institucional, conforme o Código de Conduta parlamentar. Ele alertou que o comportamento dos parlamentares deve prestigiar a instituição, e não desmerecê-la.