O Presidente da República e em exercício da União Africana, João Lourenço, disse acreditar que as autoridades da República Democrática do Congo e do Rwanda “farão a sua parte para a implementação com êxito” do acordo de paz, assinado, esta quinta-feira, em Washington (Estados Unidos da América).

João Lourenço, que discursou na cerimónia de assinatura do acordo, realizada no Instituto da Paz dos Estados Unidos, sob mediação do Presidente norte-americano, Donald Trump, sublinhou que, desde que haja vontade política, é possível implementar o acordo “em tempo útil”.  

“Uma coisa é assinar o acordo, outra coisa – que é mais difícil, mas é possível, desde que haja vontade política -, é implementar em tempo útil tudo aquilo que nós acordamos e assinamos”, destacou o Presidente angolano.

O estadista angolano recordou que o conflito no Leste da República Democrática do Congo tem causado graves consequências humanas e económicas para toda a região, impedindo o aproveitamento do vasto potencial natural e humano dos Grandes Lagos.

Salientou que a região é uma das mais ricas do mundo em recursos hídricos, minerais, florestais e terras aráveis, e poderia desempenhar um papel determinante na resposta às crises energética e alimentar que afectam o planeta.

A título de exemplo, João Lourenço citou a barragem de Inga, localizada na República Democrática do Congo, com capacidade para impulsionar a electrificação de África e a sua industrialização.

Recordou que Angola, Kenya e outros países africanos procuraram fazer a sua parte para o alcance da paz entre os dois países, tendo agradecido “ao Presidente Trump por ter dado continuidade ao trabalho que nós realizámos e ter conseguido alcançar esse desfecho do qual todos nós sairemos a ganhar”.

O acordo assinado consolida os entendimentos alcançados a 27 de Junho do corrente ano, assentando em pilares essenciais como cessar-fogo e fim das hostilidades entre as forças de ambos os países.

Prevê a retirada das tropas rwandesas posicionadas no Leste da RDC, a criação de um Mecanismo Conjunto de Coordenação de Segurança, responsável por monitorar compromissos militares, fronteiriços e de desmobilização, o respeito mútuo pela integridade territorial da RDC e mecanismos de diálogo permanente.

Inscreve igualmente o retorno seguro e digno de refugiados e deslocados internos e a promoção da cooperação económica e integração regional, incluindo um quadro económico destinado a atrair investimento e estabilizar o Leste congolês.

Presidente americano destaca contributo de Angola à pacificação da RDC

Por seu lado, o Presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, destacou o contributo do Chefe de Estado angolano, João Lourenço, nos esforços para pôr fim ao conflito armado no Leste da República Democrática do Congo (RDC).

Donald Trump disse esperar que o acordo possa dar início a uma nova era, reconhecendo que o mesmo abre uma nova página para milhões de pessoas afectadas pela violência.

Sublinhou que o processo foi longo e complexo, marcado por várias fases de negociação, mas que culminou com um entendimento que representa o fim de mais de três décadas de conflito no Leste congolês.

Por sua vez, o Presidente do Rwanda, Paul Kagame, ressaltou o empenho de Donald Trump para o êxito do processo de paz entre o seu país e a RDC.

O Presidente da RDC, Felix Tshisekedi, manifestou a profunda gratidão às autoridades americanas pelos esforços empreendidos para trazer a paz para o seu país, bem como ao líder angolano, João Lourenço, e aos outros actores do continente.

Durante o seu discurso, Donald Trump reconheceu ainda o envolvimento do Presidente do Kenya, William Ruto, dos representantes do Togo, Uganda, Qatar e Emirados Árabes Unidos, bem como responsáveis norte-americanos que apoiaram o processo.

Eis o discurso na íntegra o discurso do Presidente João Lourenço:

Senhor Presidente Donald Trump, Presidente dos Estados Unidos da América;

Caros convidados;

Altas entidades aqui presentes;

Senhores jornalistas;

Eu gostaria de realçar a importância desta cerimónia aqui, em Washington D.C., que vai finalmente pôr fim a um conflito que, como já foi dito, dura há mais de três décadas.

Não são exactamente trinta anos, mas mais do que três décadas. Um conflito entre irmãos, países vizinhos e irmãos, que se deviam dar bem, mas que, por razões de diversa ordem, têm vindo a se digladiar ao longo dos anos, com pesadas consequências, quer para as populações de ambos os países, quer também para as respectivas economias.

A Região dos Grandes Lagos é uma região das mais ricas do mundo, não apenas de África. É enormemente rica em recursos hídricos, terras aráveis, florestas, recursos minerais que estão no subsolo, mas sobretudo rica nas suas pessoas, com um potencial muito grande para desenvolver aquela região de África que pode catapultar o desenvolvimento de outras regiões, igualmente, do nosso continente.

O mundo atravessa hoje uma crise energética e alimentar. Nós estamos a dizer que África, e em particular essa Região dos Grandes Lagos, tem o potencial, não digo de resolver, mas de contribuir consideravelmente para a resolução destas duas grandes crises, quer alimentar quer energética, não apenas para o nosso continente, mas para o mundo.

A grande Barragem do Inga, adormecida há bastantes anos, pode contribuir enormemente para a electrificação do continente e, consequentemente, para a sua industrialização.

Em termos de agricultura, o facto de ter terras aráveis, com um índice de chuvas bastante regular e abundante, pode desenvolver-se a agricultura naquelas regiões para alimentar o continente.

E nada disso tem sido possível fazer-se, ao longo de décadas, devido a este conflito que não tem sentido e que, final e felizmente, parece que terá o seu fim hoje, aqui em Washington D.C.

Nós procurámos fazer a nossa parte. E quando digo nós, estou a referir-me a Angola, ao Quénia, e a outros países também africanos. Procurámos fazer o melhor para chegarmos a este momento.

Infelizmente não foi possível, mas nós só temos de agradecer ao Presidente Trump por ter dado continuidade ao trabalho que nós realizámos e ter conseguido alcançar esse desfecho do qual todos nós sairemos a ganhar.

Portanto, mais uma vez, o Presidente Trump fez a parte que lhe compete, e nós esperamos – e acreditamos que é o que vai acontecer -, que as duas partes, ou seja, as Autoridades da República Democrática do Congo e da República do Ruanda também farão a sua parte para a implementação com êxito deste acordo.

Uma coisa é assinar o acordo, outra coisa – que é mais difícil, mas é possível, desde que haja vontade política -, é implementar em tempo útil tudo aquilo que nós acordamos e assinamos.

Parabéns a todos, muito obrigado!”

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