Por Sempa Sebastião – Jornalista e Analista Político
A decisão do Governo angolano de implementar um subsídio de desemprego apenas em 2027 chega como uma promessa tardia e, inevitavelmente, carregada de suspeita. Apresentada como uma medida de proteção social e de combate à vulnerabilidade, ela surge num momento politicamente sensível: o ano eleitoral. E em política, o tempo das decisões é tão revelador quanto o seu conteúdo.
O desemprego em Angola não é um fenómeno recente nem uma realidade desconhecida. Pelo contrário, é um problema estrutural que se agravou nos últimos anos, atingindo de forma dramática a juventude — a geração que deveria representar o motor do desenvolvimento nacional. As ruas de Luanda e das demais províncias estão cheias de jovens formados, empreendedores frustrados e trabalhadores informais que sobrevivem sem proteção social.
Por que razão, então, só agora, quase no fim do mandato do Presidente João Lourenço, surge a iniciativa de um subsídio de desemprego?
Será coincidência que a medida entre em vigor precisamente no ano das eleições gerais? Ou estaremos diante de mais um exercício de engenharia política, onde o Estado confunde política social com estratégia eleitoral?
A política do tempo e o tempo da política
O tempo é o juiz mais severo da coerência governamental.
Durante os anos de governação de João Lourenço, o discurso da diversificação económica e da proteção social foi constante, mas raramente se traduziu em políticas concretas e eficazes. O Programa Kwenda, lançado em 2020, foi apresentado como um mecanismo de transferência de rendimentos para famílias vulneráveis, mas o seu alcance e execução foram marcados por falhas operacionais e por denúncias de favorecimento político.
Agora, quando o país se aproxima de mais um ciclo eleitoral, o anúncio de um subsídio de desemprego surge como uma espécie de promessa moral, revestida de compaixão social, mas politicamente calculada. É legítimo perguntar:
“Se havia meios, por que esperar tanto tempo?”
“Se não havia meios, por que prometer agora?”
Entre a necessidade e a conveniência
Não se trata de negar a importância de um subsídio de desemprego trata-se de questionar a sua motivação e viabilidade. Uma verdadeira política social exige planeamento financeiro, reforma fiscal e transparência institucional.
A Angola de hoje continua dependente das receitas do petróleo, com um setor produtivo ainda frágil e com uma economia informal que absorve a maioria da população ativa. Num contexto assim, prometer um subsídio nacional de desemprego sem antes fortalecer as bases da economia é, no mínimo, um exercício de retórica.
Mais grave ainda é o fato de a promessa coincidir com um momento em que o descontentamento social cresce marcado pela estagnação salarial, aumento das propinas, precarização dos serviços públicos e crescente distância entre o discurso do poder e a realidade das ruas.
A ilusão das promessas
Em Angola, a política social tem frequentemente servido como anestesia eleitoral. No passado, vimos programas e promessas surgirem às vésperas de eleições, com impacto mediático imediato, mas pouca durabilidade real. O povo, cansado, já começa a distinguir a solidariedade autêntica da solidariedade estratégica.
As eleições são o momento em que o poder busca renovar a confiança. Mas a confiança não se compra com promessas tardias constrói-se com coerência, transparência e resultados concretos. Quando a política social é usada como ferramenta de marketing político, o Estado trai a essência do seu dever proteger sem calcular, servir sem condicionar, cuidar sem medir votos.
Um desafio à consciência nacional
O subsídio de desemprego, se realmente implementado, poderá ser um avanço histórico. Mas a sociedade deve permanecer vigilante: exigir que o projeto saia do papel, que tenha base orçamental clara e que não seja manipulado como instrumento de influência eleitoral.
Porque a verdadeira transformação de Angola não virá de anúncios em vésperas de eleições, mas de políticas públicas consistentes, duradouras e inclusivas.
E talvez essa seja a maior lição o povo já aprendeu a ouvir o discurso, mas agora quer ver a prática.
A história julgará não apenas quem prometeu, mas também quem acreditou e quem se calou.
E, como sempre, o tempo esse velho aliado da verdade mostrará se o subsídio de desemprego foi uma política de justiça ou uma promessa de conveniência.
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